A Copa do Mundo começou há exatos 16 dias com
algumas dúvidas sobre a capacidade do Brasil para sediar um evento esportivo
desse porte. Na mídia nacional e internacional, ainda se questionava se 'o
Brasil estaria pronto' para receber os 600 mil turistas estrangeiros esperados
e realizar a chamada "Copa das Copas" prometida pelos governantes.
Os atrasos na entrega dos estádios e dos projetos de infraestrutura -
muitos que ainda não ficaram prontos -, os problemas dos aeroportos e a ameaça
de greves e protestos acabaram fazendo com que o Brasil ficasse em evidência
mundo afora às vésperas do Mundial e chegaram até a 'assustar' alguns
visitantes que estavam prestes a embarcar para o país.
Nas duas primeiras semanas de Copa, ao menos as previsões mais pessimistas não
se confirmaram. Não houve caos aéreo - apesar de alguns aeroportos terem
apresentado problemas de atraso, como é comum em períodos de muita demanda -,
não houve grandes greves, os protestos foram contidos - alguns com certa
violência, que acabou em confronto entre policiais e manifestantes - e a
organização dos jogos também foi considerada satisfatória.Mas, passados os
primeiros dias de euforia, o que os turistas de fora - popularmente chamados de
'gringos' - estão achando do Brasil? A BBC Brasil passou as duas últimas
semanas ouvindo dezenas de estrangeiros que passaram pelas cidades-sede da Copa
para saber quais eram as impressões deles sobre a organização do país para
receber o Mundial, a infraestrutura, a hospitalidade dos brasileiros e tudo o que
foge dos estereótipos conhecidos de "país do futebol, samba e
carnaval".
"Falaram tanto que o Brasil era violento, que seríamos assaltados,
que os estádios não estavam prontos e tudo mais, mas não tivemos nenhum
problema, está tudo muito tranquilo até aqui", relatou Neftalí Barría, um
chileno que chegou ao Brasil no dia 10 de junho e passou por Cuiabá, Curitiba e
São Paulo.
Mas nem tudo foram "flores" para os turistas que desembarcaram
no Brasil neste mês de junho. Para outro chileno, por exemplo, a experiência no
país já havia tido algumas intempéries, como um assalto a 25 companheiros em um
albergue nos arredores da capital mato-grossense. O canadense Steven quase
passou pela mesma experiência, mas foi mais esperto que os “ladrões” da Vila
Madalena, bairro boêmio da zona oeste de São Paulo.
“Eles pegaram minha carteira, mas era minha carteira falsa”, explicou.
Carteira falsa? “É, eu tenho essa carteira aqui com cartões de crédito vencidos
e até carteira de motorista antiga para enganar os ladrões. Quando eles se
deram conta, largaram na rua de novo. Sou mais esperto que eles”, festejou.
Um outro holandês relatou a falta de infraestrutura de algumas cidades e
as obras que atrasaram e ainda estão em curso durante o Mundial. "Fiquei
impressionado com as obras que não ficaram prontas, muita coisa por fazer. Acho
que a Fifa tinha que ter pressionado mais para as coisas saírem", contou à
BBC Siegfried Mulder.
“Os estádios não estão prontos. Estão funcionando, mas não estão
prontos”, disse o sul-coreano Sangnin, que passou por Cuiabá, Porto Alegre e
São Paulo indo aos jogos da Coreia.
Em 100% das respostas, o principal elogio era sempre o mesmo: "As
pessoas são incríveis aqui." A hospitalidade do povo brasileiro foi o que
sobressaiu aos olhos de todos os estrangeiros que conversaram com a reportagem.
Holandeses, croatas, chineses, uruguaios, ingleses, chilenos, mexicanos,
alemães, coreanos, belgas, canadenses, americanos, todos, sem exceção, citaram
“as pessoas” como o melhor do Brasil até agora.
"Os estádios são muito bonitos, mas acho que o mais especial é o
povo. As pessoas são muito alegres, fantásticas, isso colore a Copa do
Mundo", disse o colombiano Elkin.
Entre as críticas, a mais recorrente foi com relação à língua, pelo fato
de, principalmente os turistas que não falam português - ou pelo menos espanhol
-, terem um pouco de dificuldade para se comunicarem no país.
Unanimidade
Seja em São Paulo, Porto Alegre, Salvador, Manaus ou Cuiabá, em todas as
regiões do país pelas quais os gringos passaram, não houve um que não
destacasse o povo brasileiro com o a principal atração de cada lugar. A
acolhida dos nativos foi o que chamou bastante a atenção, principalmente dos
europeus, que se disseram "não acostumados" com tamanha simpatia.
"Os brasileiros são extremamente prestativos, sempre querendo
ajudar. É incrível", disse a irlandesa Enya. "Passei por Foz do
Iguaçu, Curitiba, agora São Paulo. Em São Paulo, assim que desci do metrô e abri
o mapa para procurar o hostel, já veio uma pessoa para me ajudar a achar, me
explicar o que tinha que fazer. Fiquei impressionada, porque na Irlanda não é
assim."
"Nós ficamos muito surpresos, todos os brasileiros estão sendo
incríveis com a gente, muito solidários, qualquer lugar que vamos eles
perguntam 'vocês precisam de ajuda?', por enquanto não houve nenhum problema',
sentenciaram os amigos britânicos Sam e Adam. A solicitude dos brasileiros é
tanta que, segundo os torcedores de fora, falar português já nem se torna tão
essencial.
"As pessoas aqui são muito simpáticas. A língua é um problema
pequeno, um inglês bem simples é o suficiente, porque as pessoas fazem de tudo
para ajudar", contou o chinês Rocky.
Organização e protestos
Por causa da onde enorme de protestos durante a Copa das Confederações
no ano passado, a expectativa por mais demonstrações grandes contra a Copa do
Mundo cresceu para o período do Mundial. Nessas duas semanas de Copa, porém,
ainda não aconteceu nenhum protesto na escala daqueles de 2013, o que minimizou
o "medo" por parte dos torcedores de fora quanto a elas. Ainda assim,
alguns deles disseram que foram capazes de “entender os motivos das
insatisfações” após alguns dias no Brasil.
"Estamos conseguindo entender melhor por que as pessoas estavam
reclamando dessa Copa, por que dos protestos e tudo mais”, pontuou o alemão Jan
Menke, que veio para o Brasil com quatro amigos para curtir a Copa, mas sem ir
aos estádios - "os ingressos estão muito caros", explica ele.
"Conversando com as pessoas em todos os lugares, a gente começa a
ter uma noção melhor sobre o que acontece no país. Porque nós somos apenas
visitantes, estamos aqui de passagem, está tudo certo, mas as pessoas que vivem
aqui têm inúmeros problemas", prosseguiu. Ele e os amigos passaram por
Curitiba, São Paulo e Rio.
A organização e infraestrutura das cidades-sede para essa Copa foram
pontos bastantes questionados durante toda a conturbada preparação do Brasil
para o Mundial por causa, princpalmente, dos atrasos. E alguns torcedores
contaram à BBC que sentiram esses problemas na pele durante o torneio.
"O que eu criticaria um pouco seria a infraestrutura. Os estádios
estão bons, mas as estradas estão ruins. Em Cuiabá, a única coisa que está
pronta é o estádio. Há muitos desvios, muita coisa para fazer", reclamou o
chileno Raúl Castro, que está na caravana de mais de mil carros que veio de
Santiago ao Brasil para acompanhar o Chile no Mundial. Viajando de carro de lá
até aqui e passando por Cuiabá, Rio de Janeiro e São Paulo, ele relata
problemas nas estradas e falta de sinalização.
Já o holandês Siegfried se disse impressionado principalmente com o Rio
de Janeiro. Mas ao contrário da maioria dos turistas ouvidos pela BBC, que se
mostraram encantados com a beleza da Cidade Maravilhosa, este separou algumas
críticas para a futura sede da Olimpíada em 2016.
"O Rio vai sediar os Jogos Olímpicos daqui dois anos e ninguém fala
inglês – comércio, restaurantes, nada", disse. "Eu achava que, além
de São Paulo, o Rio também era uma metrópole. Mas não é. Você já foi ao Cristo
Redentor? O que achou? É muito desorganizado!", reclamou. Siegfried passou
por Salvador, Rio de Janeiro, Porto Alegre e São Paulo.
Mas, apesar de alguns problemas, a percepção da grande maioria dos
turistas a respeito a Copa do Mundo no Brasil é de que ela está sendo uma
"grande festa”. E, segundo eles, “os brasileiros sabem como fazer uma
festa.”
“Tudo está bom para esse tempo de festa do futebol.É muito difícil
organizar uma Copa, mas você pode ver que tudo está bem organizado, o estádio é
bom, seguro, então o Brasil está provando que está pronto para isso",
sentenciou o holandês Oscar.
Fonte: BBC
Nas duas primeiras semanas de Copa, ao menos as previsões mais pessimistas não se confirmaram. Não houve caos aéreo - apesar de alguns aeroportos terem apresentado problemas de atraso, como é comum em períodos de muita demanda -, não houve grandes greves, os protestos foram contidos - alguns com certa violência, que acabou em confronto entre policiais e manifestantes - e a organização dos jogos também foi considerada satisfatória.Mas, passados os primeiros dias de euforia, o que os turistas de fora - popularmente chamados de 'gringos' - estão achando do Brasil? A BBC Brasil passou as duas últimas semanas ouvindo dezenas de estrangeiros que passaram pelas cidades-sede da Copa para saber quais eram as impressões deles sobre a organização do país para receber o Mundial, a infraestrutura, a hospitalidade dos brasileiros e tudo o que foge dos estereótipos conhecidos de "país do futebol, samba e carnaval".
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